terça-feira, 12 de março de 2013

Resenha - A Prática Educativa - Como ensinar



 

RESENHA   -      A PRÁTICA EDUCATIVA - Como Ensinar


Antoni Zabala – ARTMED – Tradução: Ernani F. da F. Rosa, Porto Alegre, 1998, 223 pp., título original: La práctica educativa: cómo enseñar. Ed. Graó, de Serveis Pedagògics, 1995. ISBN 84-7827-125-2.




O livro consta de oito capítulos que tratam de aspectos importantes da Pedagogia, tendo como objetivo principal, melhorar a prática educativa, desde suas variáveis metodológicas, passando pela função social do ensino e as interações professor-aluno, aluno-aluno, organização da classe e dos conteúdos, meios e modelos de aulas, as seqüências didáticas de acordo com a concepção construtivista, referências para análise de currículos, culminando no último capítulo, com a avaliação onde são analisados os aspectos da avaliação formativa: inicial, reguladora e final integradora, ainda trata a avaliação dos conteúdos factuais, conceituais, procedimentais e atitudinais.
No entanto o ponto chave que esta resenha vai abordar se encontra no capítulo IV. As relações interativas em sala de aula: o papel dos professores e dos alunos.
Muito interessante sobre todos os aspectos se torna a leitura deste capítulo, onde o autor reporta sobre as relações interativas que ocorrem em classe entre alunos e professores e que desde o início do século XX, já havia preocupação, pela participação do aluno em classe, haja vista que nesta época, a perspectiva denominada “tradicional” preponderava deixando o aluno como mero repetidor do conhecimento enquanto este era exclusivo do professor. O autor usa da concepção construtivista para explicar de maneira segura como acontecem estas interações em classe, o estabelecimento de uma série de relações que através delas o aprendiz elabora representações para uma aprendizagem significativa e autônoma.
O “ensino adaptativo” é abordado tendo como característica principal a capacidade que o estudante tem de se adaptar às diversas necessidades das pessoas que o protagonizam. Relata a diversidade de estratégias que os professores podem utilizar para facilitar a aprendizagem e melhorar a participação dos alunos em classe. A observação constante e ativa  dos professores com relação à classe é sempre lembrada pelo autor, como uma maneira de se integrar os resultados da intervenção produzida. A boa lógica construtivista, segundo o autor, deve favorecer as interações em diferentes níveis: em relação ao grupo classe, quando de uma exposição; em relação aos grupos de alunos, quando a tarefa o requeira  ou o permita; interações individuais, que permitam ajudar os alunos de forma mais específica; etc.
O autor fala ainda que o professor deve trabalhar no sentido de desenvolver a atividade mental auto-estruturante do aluno a qual possibilita estabelecer relações, generalizações, descontextualização e a atuação autônoma, supõe que o aluno entende o que faz e por que o faz e tem consciência, em qualquer nível, do processo que está seguindo. Mas alerta, que para o estudante atingir este nível o professor deve dar significado ao ensino, ajudando-o a compreender este significado, motivando-o, na medida em o faz sentir que sua contribuição será necessário para aprender. Observa-se que nesse momento, quando o autor se reporta a esta atividade mental auto-estruturante, tem tudo a ver com Vigotsky e Lúria, quando da apropriação do conhecimento, que deve acontecer primeiro através da imitação e através de um processo organizado, o aluno autonomamente, constrói o seu conhecimento.
 Interessante também se apresenta o capítulo, quando o autor cita que uma interpretação construtivista do ensino se articula em torno da atividade mental do estudante e diz que esta atividade mental se fundamenta na zona de desenvolvimento próxima, que, portanto, vê o ensino como um processo de construção compartilhada de significados, orientados para a autonomia do aluno.
Para concluir o capítulo o autor apresenta dez características construtivistas, retiradas do livro, El constructivismo en el aula de César Coll e outros,1993,Barcelona,Graó.
Com o título: a influência da concepção construtivista na estruturação das interações educativas na aula, o autor apresenta estas características fazendo uma pequena análise de cada uma delas. Por tratar-se do ponto central deste estudo elas estarão sendo transcritas a seguir:
Do conjunto de relações interativas necessárias para facilitar a aprendizagem se deduz uma série de funções dos professores, que tem como ponto de partida o próprio planejamento. Podemos caracterizar estas funções da seguinte maneira:
a)      Planejar a atuação docente de uma maneira suficientemente flexível para permitir a adaptação às necessidades dos alunos em todo o processo de ensino / aprendizagem.
b)      Contar com as contribuições e os conhecimentos dos alunos, tanto no início das atividades como durante sua realização.
c)      Ajudá-los a encontrar sentido no que estão fazendo para que conheçam o que têm que fazer, sintam que podem fazê-lo e que é interessante fazê-lo.
d)     Estabelecer metas ao alcance dos alunos para que possam ser superadas com o esforço e ajuda necessários.
e)      Oferecer ajudas adequadas, no processo de construção do aluno, para os progressos que experimenta e para enfrentar os obstáculos com os quais se depara.
f)       Promover atividade mental auto-estruturante que permita estabelecer o máximo de relações com o novo conteúdo, atribuindo-lhe significado no maior grau possível e fomentando os processos de metacognição que lhe permitam assegurar o controle pessoal sobre os próprios conhecimentos e processos durante a aprendizagem.
g)      Estabelecer um ambiente e determinadas relações presididos pelo respeito mútuo e pelo sentimento de confiança, que promovam a auto-estima e o auto conceito.
h)      Promover canais de comunicação que regulem os processos de negociação, participação e construção.
i)        Potencializar progressivamente a autonomia dos alunos na definição de objetivos, no planejamento das ações que os conduzirão a eles e em sua realização e controle, possibilitando que aprendam a aprender.
j)        Avaliar os alunos conforme suas capacidades e seus esforços, levando em conta o ponto pessoal de partida e o processo através do qual adquirem conhecimento e incentivando a auto-avaliação das competências como meio para favorecer as estratégias de controle e regulação da própria atividade.

Observa-se que as palavras em itálico, são as palavras chave de cada função e portanto cada professor que tiver a oportunidade de lê este livro e é importante que o  leia, com atenção, precisa estar atento o quanto importante é cumprir estas funções estabelecidas neste capítulo para que o seu trabalho pedagógico tenha o êxito esperado.
É um livro que deveria ser não apenas lido, mas estudado criteriosamente por todos os professores do ensino médio e do ensino técnico que desejam transformar as suas classes em uma micro organização social, agradável, fugindo da rotina das aulas expositivas.




Prof.: Jeová Lacerda Calhau